António Paulo Pedroso, antigo membro da direcção do Clube Amador de Mirandela, o
“Super-homem Camir” é o nosso Camir do mês.
Camir
– Prof. Paulo, vão aqui
abordar-se temas relacionados com o clube, com a secção e desvendar um
bocadinho do António Paulo Pedroso.
Camir
– O Prof. Paulo foi um
dos membros eleitos em Assembleia-geral extraordinária realizada no dia
13 de Janeiro de 2005. Fale-nos do
Clube Amador de Mirandela. Quando surgiu e porquê? Quais as razões do
interregno das suas actividades? Quem, como e porquê reactivou o Camir?
Prof.
Paulo – Sobre a fundação,
1ª vida do CAMIR, na altura CAM, o porquê e o interregno, as pessoas indicadas
para falarem sobre isso são, entre outras, o Victor Magalhães e o Prof. António
Ferreira, que estiveram na génese e na fase inicial do clube.
Apareço no renascimento do CAMIR,
juntamente com o Victor Magalhães e com o Carlos Jacinto, como principais
fomentadores. Desenvolvíamos atletismo, xadrez e hóquei no Sport Clube de
Mirandela, que entretanto a partir de uma certa altura passou a não cumprir os
compromissos financeiros estabelecidos com as verbas que eram atribuídas pela
Câmara Municipal de Mirandela a estas 3 modalidades.
Como achamos que assim não poderíamos
continuar resolvemos sair do SC Mirandela e reactivar o CAMIR que assim renasce
com estas 3 modalidades: atletismo, xadrez e hóquei.
Para reaver algumas das verbas destas
modalidades que tinham sido retidas no S.C. Mirandela registamos no notário em
nome do CAMIR uma viatura de 9 lugares pertença do SC Mirandela, mas
habitualmente usada por estas modalidades, criando-se então um grande mal-estar,
resolvido mais tarde com bom senso.
Camir
– Foi o principal
responsável pela prática do hóquei em campo na cidade de Mirandela. Como surgiu
a modalidade na nossa cidade?
Prof.
Paulo – A Federação
Portuguesa de Hóquei (FPH) presidida na altura por Alípio de Oliveira lançou um
repto ao amigo e dirigente federativo João Luís Teixeira, actual presidente da
Câmara Municipal de Murça. Porque é que ainda não havia uma equipa de hóquei em
Mirandela já que lá vivia e estava na FPH.
O atletismo mirandelense tinha atingido um
nível elevado, com muitos atletas, mais de 100 filiados por época, já com
alguns anos de prática e com bons resultados a nível nacional.
Fomos então contactados por João Luís
Teixeira, ao tempo bibliotecário e com assento nas reuniões da Câmara Municipal
onde era responsável por propor anualmente as verbas destinadas a cada
clube/modalidade. Aceitamos criar uma equipa de hóquei pois vimos que era uma
boa maneira de melhorar as condições financeiras para a prática do atletismo. A
proposta era boa: uma verba mensal para o hóquei, cedência do pavilhão da
Reginorde para treinos, oferta dos sticks, empréstimo do equipamento de
guarda-redes, um treinador sem custos para o clube e um aumento substancial das
verbas do atletismo.
Escolhemos fazer uma equipa feminina pois
no atletismo havia mais raparigas. O treinador que nos colocaram foi o Prof.
Pedro Oliveira, antigo jogador do Sport Clube do Porto e filho do presidente da
FPH, que por isso mesmo assistiu a muitos dos nossos treinos dando-nos grande
motivação para continuarmos.
Os treinos de hóquei tiveram início em
Janeiro de 2001 com as atletas mais velhas do atletismo. Com reforço de 3
jogadoras de Alfândega da Fé, disputamos em Mirandela, no Pavilhão do INATEL,
com apenas 3 meses de treino a fase final de Hóquei de Sala em seniores
femininos, tendo perdido todos os jogos mas com resultados animadores. As
atletas pioneiras foram: Cláudia Ramos, Nelma Dias, Ana Pereira, Ana Sapage,
Florinda Urbano, Carla Ferreira, Andreia Lobreiro, Sandra César, Sílvia Félix,
Telma Baia e Cláudia Urbano.
Entretanto percebemos que o hóquei tinha
pernas para andar, quando as atletas começam a preferir o hóquei ao atletismo.
A partir daí começamos a apostar mais no hóquei começando a desinvestir no
atletismo. Alargou-se a prática da modalidade aos restantes atletas criando-se
nas épocas seguintes equipas jovens agora com o apoio da Associação do Nordeste
Transmontano na pessoa do seu presidente António Rodrigues.
Camir
– As seniores femininas
foram campeãs nacionais de campo, e uma vez mais um dos grandes obreiros dessa
façanha foi o “Super-homem Camir”. Qual a razão pela qual não se usou a
conquista desse título para promover a modalidade em Mirandela?
Prof.
Paulo – O título nacional
de seniores femininos foi um grande feito do CAMIR, pois tirando o Ténis de
Mesa feminino de Mirandela, nunca algum clube de Trás-os-Montes conseguiu um
título colectivo em seniores numa modalidade olímpica. Claro que esse título só
foi possível com a ajuda de 5 jogadores vindas do Ourense HC, que militava na
principal liga feminina espanhola.
A modalidade em Mirandela só será
promovida quando houver um campo próprio para a prática do hóquei e se possa
jogar em Mirandela hóquei em
campo. Enquanto o CAMIR tiver que jogar em Alfândega da Fé os
jogos caseiros não há promoção possível. É preciso sensibilizar o presidente da
Câmara para que se construa a breve prazo, em Mirandela, um sintético.
Camir
– Guarda com certeza
grandes momentos na sua vida enquanto pessoa ligada ao desporto. Quer partilhar
connosco algumas dessas recordações? E não têm que estar ligadas obrigatoriamente
ao Camir ou ao hóquei.
Prof.
Paulo – Com uma vida
ligada ao desporto há necessariamente imensas coisas que recordamos. Neste
espaço apenas irei referir o que se relaciona com Mirandela e a conquista de 24
títulos nacionais – quer individuais, quer colectivos – que tive a oportunidade
de saborear, nas modalidades de atletismo, xadrez e hóquei, só possível com o
apoio sempre presente da autarquia mirandelense.
Quando sou colocado em Mirandela pela
primeira vez tive o privilégio de poder ser um dos fundadores do Clube Ténis de
Mesa de Mirandela (CTM) e fazer parte da 1ª direcção liderada por Isidro
Borges, com quem aprendi a ser dirigente. Nessa altura tivemos, no CTM, 10
equipas de basquetebol em actividade, com a equipa sénior masculina a
participar na 3ª divisão nacional.
A minha segunda estada em Mirandela
coincide com o renascimento do atletismo que estava inactivo e a criação em
Mirandela do xadrez e do hóquei, com resultados muito positivos.
O atletismo mirandelense atingiu o top
nacional com a Nelma Dias a ser campeã nacional por duas vezes; colectivamente
a nível nacional foi 2º classificado em 2 anos consecutivos no Triatlo Técnico
Jovem e 3º clube nacional no Salto em Altura e no Atleta Completo. Na Zona
Norte foram 7 os títulos colectivos e mais de meia centena, os títulos
individuais. Recordo os treinadores que estiveram relacionados com estes
resultados: Rui Cláudio, Prof. Bruno Reimão, Prof. José Ramos, Prof. Ana Paula
Ramos, Prof. José Manuel Martins, Prof. Marcelino Martins e Prof. Emanuel Brandão.
Atletas jovens campeões foram muitos, além da Nelma Dias, cito só mais dois:
Luís Assis, o 1º campeão do Norte de Mirandela e Sara Carvalho que conquistou
mais de uma dezena de títulos de campeã do Norte.
No atletismo houve ainda mais 2 campeões nacionais:
Hilário Ramos (invisuais) e António Ferreira (veteranos) que foi ainda
medalhado com bronze num Campeonato da Europa.
Refiro ainda dois nomes Eng. Henrique
Pedro e Dr. José Ribeirinha que levaram à criação da Meia-Maratona da Rota do
Azeite, uma das maiores manifestações desportivas da cidade de Mirandela que
teve várias edições.
No xadrez destaco Miguel Moreira e Mário
Massena que estiveram na criação da modalidade; Eduardo Libório actual
responsável; Francisco Manuel Travassos na génese das noites quentes do xadrez;
os treinadores Marian Gabreanu, Mestre Roman Chemerys e Mestre Carlos Carneiro e
finalmente os campeões nacionais: David Martins, Cristina Martins, Tomás
Martins, Sónia Pinto, Ana Catarina Libório e Agna Gabriel.
No hóquei mirandelense, título nacional de
seniores femininos à parte, distingo os responsáveis Luís Barros, Prof. José
Manuel Martins e Prof. Cláudia Ramos; a atleta Ana Luísa Teixeira que conta o
maior número de internacionalizações no clube; os atletas Paulo Cabral, Nelma
Dias, Inês Gonçalves e novamente Cláudia Ramos pela longevidade e dedicação ao
desporto; às jogadoras das várias equipas femininas de Sub 16 vencedoras
nacionais por 5 vezes e a todos os internacionais.
Camir
– Continua a acompanhar a
vida do Camir?
Prof.
Paulo – É claro que acompanho tudo o que diz
respeito ao CAMIR, procurando estar sempre a par do que se vai passando nas
várias modalidades. No caso do hóquei refiro o seguinte: admiro a competência
do trabalho e a dedicação que o Luís Barros vai tendo ao longo destes últimos
anos liderando a modalidade em Mirandela sempre em crescendo, agora sem poder
contar com o faz-tudo Alexandre José; a ousadia de criar uma equipa sénior
masculina e competir no nacional de sala juntamente com clubes com décadas de
tradição na modalidade; realço o aparecimento de uma nova jogadora que não
conheci, a guarda-redes Ana Guerra que além de ser uma boa jogadora – chegou
meteoricamente à selecção nacional – já sente o clube; as equipas de seniores
femininos, de Sub 14 e Sub 18 masculinos que estão à altura de qualquer
adversário nacional ocupando lugares cimeiros; o treinador José Manuel Martins
que chegou a treinador da selecção nacional, reconhecendo-se o valor do hóquei
mirandelense; os inúmeros jogadores do CAMIR que sucessivamente vão vestindo a
camisola de Portugal nos vários escalões; a ausência de equipas nos escalões de
Sub 16 femininos que já tantas alegrias deram ao clube e nos Sub 12.
Camir
– Tem saudades dos tempos
que passou no Camir?
Prof.
Paulo – Claro que sim. Deixei
muitos amigos no CAMIR, mas a vida continuou. Ainda na época passada pelo AVE
Pedras Salgadas tive o CAMIR como adversário no Nacional da 3ª divisão em
xadrez.
Camir
– Perspectiva um regresso
a Mirandela e ao Camir?
Prof.
Paulo – O futuro a Deus
pertence, mas parece-me improvável o regresso ao CAMIR.
Camir
– Quem é afinal o
“Super-homem Camir”, fale-nos sobre si.
Prof.
Paulo – Não há
Super-homem. Apenas apaixonado, dedicado e voluntarioso às causas desportivas
que abraço. O facto de não ser casado e não ter filhos dá-me imensa
disponibilidade e assim posso acompanhar por dentro e por fora os clubes ou
modalidades em que esteja integrado. A vida de professor não me permitiu
estabilizar e focalizar-me num só projecto desportivo, tendo que terminar a
colaboração num clube como aconteceu no CAMIR e começar de novo noutro lugar.
Em 25 anos como professor passei por esta ordem pelos concelhos do Porto, Póvoa
de Varzim, Mirandela, Póvoa de Varzim (novamente), Lousada, Mirandela (de
novo), Coimbra e Vila Pouca de Aguiar, onde estou hoje em dia.
Liguei-me ao desporto desde muito cedo,
por influência do meu pai e do avô paterno, antigos atletas e dirigentes
começando por praticar basquetebol no Leça FC onde percorri todos os escalões
desde o mini-basquete aos seniores, acumulando como federado ainda passagens no
andebol e no voleibol. Mais tarde fui filiado também no atletismo e xadrez,
treinador de basquetebol e xadrez e árbitro de atletismo e xadrez. Como
dirigente tive a primeira experiência no GDB Leça, seguindo-se o CTM Mirandela
e depois o CAMIR. Actualmente, presido a Associação de Xadrez de Vila Real.
Agradeço terem-se lembrado de mim e ter a
oportunidade de relatar alguns factos e poder mencionar atletas, treinadores e
dirigentes marcantes para o clube. Obrigado.
Saudações hóquistas,
Camir.